Wednesday, November 18, 2009

Os últimos anos mudaram-no, sem que se aperceba muito bem como e porquê. É uma evolução ténue, mas consistente. De ano para ano, de encontro para encontro reconhece que já não é bem o mesmo.
Viu um vídeo com 15 anos. Menos 40 quilos. Sem barba. Cara de parvo. A rir, a falar. Mas num ou noutro segundo o ar actual, sério, macambúzio.
Será que é outro hoje ou era outro ontem? O ar sério, triste, melancólico já lá estava, escondido pelo sorriso.

É isto que é ser adulto? Medir as palavras, as consequências, não se conseguir exprimir, ficar atolado em sentimentos? Perder-se dentro dele, sem rir?

Nunca teve jeito para pessoas. Evita perguntar como vão, já que à medida que as pessoas vão envelhecendo vão trocando o "tudo bem" por um rosário de problemas e apoquentações. E ele ali, sem saber o que responder, entre o sorriso amarelo e o desejo de fugir. Às vezes coloca a mão nas costas delas, nas suas mãos, olha-as nos olhos, pedindo a Deus que o tire dali.

O desejo de estar com pessoas foi diminuindo. Prefere estar só, consigo, conversando interiormente.

O trabalho é mecânico, sem prazer, seco. As vezes em que é obrigado a comunicar, com colegas, patrão, clientes é profissionalmente correcto, mas fica por aí. Não almoça com eles, não troca mails ocos, não consegue rir das piadas brejeiras que correm pelo escritório.

Hoje, quando chega a casa pegará na cassete de vídeo que viu, mencionada anteriormente, depois de a ver, destrói-a, tentando apagar o que foi, evitando mudar.

Os últimos anos mudaram-no. Mesmo não entendendo, ele vai evitando ser o que já foi, fechando-se e apagando-se.