Criou celeuma a nível regional, mas também o faria a nível nacional se se tivesse proporcionado.
O cachorro era ainda novito, pouco mais de um mês de vida. Era escanzelado, estava sujo e tinha levado uma panada de um carro.
Andava por ali, em três pernas, quando uma senhora o viu.Começou a pensar em voz alta, como é hábito de muitas das senhoras de idade. Uma a uma várias pessoas se (a)chegaram a ela e foi-se formando uma turba indignada com o estado do animal.
Chamaram-se jornais e rádios, a televisão também foi avisada, mas somente o jornal regional se dignou a aparecer.
Em frente, sem direito a opinião ou a uma análise, por parte da turba, estava o seu dono. Junto à barraca, triste e choroso pelo estado do seu amigo, fraco pela fome e aturdido pelo frio olhava sem esperança para o cachorro. Tinha cinco anitos, vivia durante o dia na terra, no pó de um baldio, com a avó como companhia.
Dele ninguém falou.
Ninguém o viu.
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