Tuesday, April 03, 2007

Fantasia

O dia nasceu mais frio do que normal.
Pela primeira vez em anos, um manto branco cobria a terra. As crianças acordaram num misto de surpresa, medo e curiosidade. Os mais velhos perscrutaram os céus. Reuniram-se em volta do ancião, descansaram com as suas palavras, e tentaram voltar ao seu dia a dia.
No meio da aldeia a cabana do velho homem não denotava qualquer tipo de ansiedade. Tudo corria numa calma normalidade.
Sentou-se cansado na sua cadeira e pediu à mulher que reunisse as crianças da aldeia.
Alguns minutos passaram, até que a sala que servia de cozinha albergasse uma dúzia de crianças. De olhos abertos e ansiosas esperavam pela razão da visita.
Devagar, quase ausente o velho olhava para elas, sorriu momentaneamente, até que suavemente pediu à mulher que lhes fizesse uma bebida quente à base dumas ervas.Olhando para aquelas crianças pensou nos pais delas, em como os tinha visto crescer, enamorar-se uns pelos outros e como estes pequenos rebentos tinham germinado.
“Sabem a razão pela qual estão aqui?”, perguntou.
Um mais afoito respondeu que não.
“Quero contar-vos uma história. Nada mais que isso.”Viu nos seus olhos a importância do acontecimento. Entre eles o relato das coisas transmitia a vivacidade da vida, a tragédia, os diferentes elos que nos uniam uns aos outros. Mas claro que tudo isto era somente uma parte da questão, os elos também nos prendiam, oprimiam, e levavam-nos a fazer coisas que não queríamos. Pelo menos era isto que ele gostava de pensar, era uma desculpa e ao mesmo tempo uma força para continuar a viver. Era um peso que lhe saía de cima. Aceitou agradecido o copo quente que a mulher que o servia há tanto tempo lhe estendia.
Bebeu um pouco, juntou as recordações e começou a história.

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