Confesso que nunca percebi, ainda tenho dificuldades, em perceber as mulheres, juntando a isto o timing a minha vida amorosa fica contada, pelo menos parte dela.
Nunca entendi o disse que não disse e o não disse que disse próprio das mulheres. Nunca percebi no sorriso, no riso, no olhar algo mais do que aquilo mesmo.
Ela era a minha melhor amiga, morávamos distantes um do outro, mas as cartas mitigavam qualquer distância. Víamo-nos de vez em quando, ríamos, conversávamos, ela buscava a minha presença e eu a dela. Nunca pensei nela de outra maneira que não como amiga, não porque não gostasse dela, mas porque me via inferior, inadequado, ela era inacessível.
Um dia alguém me disse que ela gostava de mim, e eu que não, como era possível? De mim?Passaram-se meses, as cartas continuavam a fluir, e os meus pensamentos caminhavam de vez em quando para aquela conversa. “Ela gosta de ti.”
Convidei-a para ir ao cinema. Falámos um pouco, comprámos água e pipocas. Depois de acabadas as pipocas procurei a sua mão no escuro e coloquei-a na minha, apertando- -a.Passámos assim os últimos 30 minutos de filme, de mão dada, mas a mão dela estava frouxa, senti-lhe um misto de sentimentos, por um lado não respondia como eu esperava, por outro não a tirou bruscamente. Manteve-se ali, de encontro à minha numa frieza constrangedora, mas ao mesmo tempo como prova de uma amizade enorme.
Levei-a a casa, falámos um pouco mais e deixei-a imerso nos meus próprios pensamentos, sem termos tocado no que tinha acontecido.
Nessa semana descobri que namorava há dois meses, pensei na minha mão na dela, e na forma como ela, humanamente e com amizade, me deu a sua resposta, sem articular uma única palavra.Chamei-me de estúpido umas quantas vezes, teria perdido o amor da minha vida?
Vi-a com alguém que não conhecia, com alguém que invejava por uma questão de timing e de incompreensão.
Claro que é possível que ela nunca tenha gostado de mim.
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